segunda-feira, 17 de junho de 2019

Ary Quintela

O que lembra a você que já passou dos 50 anos nomes como Ary Quintela, Oswaldo Sangiorgi, Carlos Galanti e Oswaldo Marcondes? Domingos Pacoal Cegalla, Napoleão Mendes de Almeida e Evanildo Bechara? - São referências de autoria de livros didáticos que muito ensinaram e enriqueceram o universo dos alunos das primeiras séries do ensino fundamental que naquele tempo era divido em Primário (quatro anos), Admissão ao Ginásio (um ano) e Ginasial (mais quatro anos). E mesmo que o aluno passasse com distinção pelo ginásio não entrava para o Científico sem fazer um concurso de admissão. Eram três anos de Científico que poderia ser o Clássico (com profissionalizante na área comercial) ou o Científico sem profissionalizante, somente preparatório para o vestibular. Para as meninas havia as opções de cursar a Escola Normal (formadora de professoras primárias) ou a Escola Doméstica (que além da equivalência propedêutica da Escola Normal ensinava prendas do lar: Culinária, Corte e Costura, Bordados, etc.).

A coleção de Oswaldo Marcondes compreendia 3 volumes com o mesmo padrão de capa e modificando apenas o título em destaque: Aritmétca, Álgebra e Geometria. - Os livros de Carlos Galante também tinham o mesmo padrão de capa para as quatro séries do ginasial modificando apenas a cor básica para cada série.
    
Os livros de Gramática da Língua Portuguesa eram impressindíveis em todas as séries do ginasial e do científico. As preferidas eram as de Domingos Pascoal Cegalla e Evanildo Bechara. - Também era muito adotada a de Napoleão Mendes de Almeida.


E o vestibular? Que vestibular! Não havia tantas faculdades nem tantas profissões acadêmicas como hoje. Ciências Contábeis era curso de segundo grau chamado simplesmente de Contabilidade. Enfermagem era só um curso técnico. E assim muitas das profissões que hoje estão elitizadas em faculdades. - A diferença é que só passava quem aprendia (não quem pagava) e quem passava saía dos cursos sabendo para desempenhar suas tarefas profissionais em segurança para si e sem por em risco a integridade e a vida de terceiros. 

Ary Quintela era o livro de matemática por excelência, o preferido pela maioria dos professores, mas havia quem preferisse os livros de Oswaldo Sangiorgi (com o advento da Matemática Moderna) por considerá-los melhores explicativos, e os que adotavam os de Calos Galanti e Oswaldo Marcondes porque continham grande quantidade de exercícios resolvidos e exercícios propostos, todos com respostas ocultas nas páginas finais dos capítulos.

Lembro-me da enorme dificuldade que tive para aprender a Equação do Segundo Grau. Calcular o “DELTA” e resolver problemas com inequações parecia algo impossível de encaixolar. Mas com o auxílio de Ary Quintela e Oswaldo Marcondes a coisa fluiu e aprendi para nunca mais esquecer.

Ary Quintela foi um eminente professor brasileiro, catedrático de matemática do Colégio Militar do Rio de Janeiro e diretor deste mesmo Colégio, e diretor da Divisão de Ensino Normal do Instituto de Educação. Autor de mais de vinte livros didáticos de Matemática e de uma série especial de seis livros sobre Matemática Moderna pela Companhia Editora Nacional. - Dá nome a muitas escolas e logradouros públicos como ruas e praças por todo o Brasil.

Nota: Seu nome sequer foi lembrado na lista dos cem maiores brasileiros de todos os tempos porque o nosso povo prefere nomes como Tiririca, Michel Teló, Luan Santana, Rodrigo Faro, Luciano Hulk, Reinaldo Gianechini, Da Tena, Romário, Anderson Silva, Dedé do Vasco, entre outros menos expressivos, com todo respeito aos nomes citados mas sem chegar nem aos pés da enorme contribuição e do legado deixado por este ilustríssimo e eminentíssimo professor brasileiro à sua Pátria. 

Ary Quintela, receba deste blog os votos de justiça que o povo brasileiro lhe negou. - Parabéns e muito obrigado pelo muito que aprendi em seus “pequenos tijolinhos”.

Entre as suas publicações pela Companhia Editora Nacional, destacam-se:

· Matemática para a Primeira Série Ginasial
· Matemática para a Segunda Série Ginasial
· Matemática para a Terceira Série Ginasial
· Matemática para a Quarta Série Ginasial
· Matemática para a Primeira Série Cientifico
· Matemática para a Segunda Série Cientifico
· Matemática para a Terceira Série Cientifico
· Aritmética Prática – Curso Comercial - Primeiro Ano
· Matemática – Curso Comercial - Segundo Ano
· Álgebra Elementar – Curso Comercial - Terceiro Ano
· Matemática – Curso Comercial - Quarto Ano
· Exercícios de Aritmética – Admissão (com colaboração do Tenente-coronel Newton O'Reilly)
· Guia de Matemática – Álgebra e Geometria (Art. 91)
· Questões de Concursos nas Escolas Superiores (com colaboração do Prof. Victalino Alves)
· Exercícios de Matemática (Normal) (com colaboração do Prof. Francisco Junqueira)

Quando se estudava nos livros de Ary Quintella não havia bulling. As crianças brincavam umas com as outras, se apelidavam, se xingavam, até brigavam e íam parar na sala da diretora, que chamava os pais e suspendia os filhos por alguns dias. Ninguém gostava de ser suspenso, pois era vergonhoso e motivo de muita gozação.

Não conheço, nem nunca ouvi falar de colegas meus e alunos contemporâneos que tenham ficado com traumas ou sequelas por causa de brincadeiras ou relacionamentos na escola. Eu, particularmente, contabilizo mais de uma dúzia de apelidos e pechas sem nenhum complexo de inferioridade ou superioridade, pelo contrário, relembro com saudade aqueles tempos idos e bem vividos.

Quando se estudava nos livros de Ary Quintela não se carregava mochila às costas com mais de 20 quilogramas de livros (em que não se estuda), cadernos (nos quais pouco se escreve) e tantos outros materiais (que quase não se usa). Era um ou dois livros (conforme os "horários de aula") com mais um ou dois cadernos, lápis e borracha (que eram usados). Régua, compasso, transferidor, somente quando a aula era de desenho ou geometria plana. - Estudava-se em média nove matérias por série, isto é, por ano, mas estudava-se pra valer! Havia prova escrita e prova oral de todas as matérias e a nota do mês era a média das duas provas, as quais serviam apenas para acompanhar o desenvolvimento escolar, pois havia ainda a prova do semestre e a do fim do ano. Somente esta última habilitava o aluno a passar para a série ligeiramente superior no ano seguinte.

Ainda ontem vi na TV Câmara o pronunciamento de um deputado (não recordo o nome) defendendo seu projeto de incluir nos curos fundamental e médio o ensino de educação moral e cidadania. Ora, isto existia nos tempos de Ary Quintela. - EMC (Educação Moral e Cívica) era matéria da grade curricular do ginásio e OSPB (Organização Social e Política do Brasil) era matéria da grade curricular do científico. - Com o advento da Nova República essas matérias foram consideradas supérfluas e desnecessárias. O brasileiro perdeu o patriotismo e o respeito ao símbolos nacionais, e em termos de cidadania estamos péssimos. Será preciso voltar ao passado para projetar um futuro melhor. 

Um comentário:

Aryquintella.com disse...

Obrigado pela homenagem ao meu avô, professor Ary Quintella, que me tocou. Cordialmente, Ary Quintella