Sistema elétrico a prova de raios? – Artigo de Fábio Resende
A declaração da Presidenta Dilma que o sistema brasileiro tem que ser a prova de raios nos deixou assustados. Ou a Presidenta é mal assessorada (há muito tempo) ou não escuta seus assessores.
Todo técnico ou engenheiro eletricista do setor de transmissão de energia deve ter aprendido que:
1. A maior causa de desligamentos nas linhas de transmissão é devido a queda de raios na linha, que, na sua maioria, caem nos cabos pára raios. Podem provocar curto-circuito na linha, mas o religamento é rápido, em questão de minutos ou mesmo segundos. Num sistema bem projetado, não há qualquer consequência.
2. Outras causas para desligamentos são queimadas, vandalismo (isoladores de vidro são alvos para vândalos), poluição industrial e marinha, cocô de pássaros etc. Nesses casos o religamento é mais demorado pois geralmente se faz necessária a presença de técnicos para a manutenção. Questão de horas, principalmente se for em local ermo ou de difícil acesso.
3. Num sistema de transmissão, composto de linhas e subestações, pouquíssimas falhas ocorrem em subestações. A enorme maioria acontece nas linhas e isso é no mundo inteiro. O ONS tem essas estatísticas e pode mostrar à Presidenta.
A preocupação com os raios levou algumas empresas (CEMIG iniciou) a criarem o SINDAT, um sistema de monitoramento de descargas atmosféricas para orientar projetos, que hoje é amplamente utilizado pela operação.
A presidenta deve ter esquecido o que aconteceu nos primeiros dias de 2005. Após um apagão que desligou o norte do Estado do Rio de Janeiro e quase todo o Espírito Santo, a Ministra de Minas e Energia, hoje Presidenta, afirmou à imprensa (dia 3/01) que isso não iria mais ocorrer. No dia 8/01, por quedas de raios comprovadas pelos registros do SINDAT, desligaram as duas principais linhas que suprem a região e tudo voltou às escuras.
Muita gente do setor elétrico lembra disso até hoje, mas a grande maioria esqueceu.
Ela inclusive e principalmente. Esqueceu-se também que quem fiscaliza os agentes é a ANEEL, e não o ONS.
A preocupação com a possibilidade eminente de racionamento que o País está enfrentando pode ser a causa desses apagões de memória.
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