domingo, 25 de dezembro de 2011

Matemática

Quem tira notas boas de matemática fica mais inteligente? Muita gente acha que sim, principalmente a vovó quando se gaba da netinha nerd. Até agora, nenhum cientista conseguiu reunir evidências indiscutíveis de que matemática aumente a inteligência, ao contrário: quase todos os cientistas dizem que o estudante nota 10 é mais paciente, mais teimoso, mais otimista, mas não necessariamente mais inteligente. Por que surgiu o mito de que matemática aumenta a inteligência? 

Observe um sujeito tentando desatarraxar um parafuso de 6 centímetros de comprimento, com uma cabeça de 1 centímetro de largura, usando uma chave de fenda de 15 centímetros de comprimento e ponta de só 3 milímetros de largura. Ele faz uma força danada, chama o parafuso de "Desgraçado! ", mas o parafuso não se move e entorta a chave de fenda. O sujeito parece um idiota. Então chama um vizinho, que traz uma caixa de ferramentas, e tira de dentro da caixa uma chave de 42 centímetros de comprimento com ponta de 1 centímetro de largura, e desatarraxa o parafuso em segundos. O vizinho usou a ferramenta certa, mas, olhando de longe, até parece mais inteligente. 

É a mesma coisa com a matemática. Em 1907, num lampejo, duas perguntas simples surgiram no cérebro de Albert Einstein: Enquanto uma pessoa está caindo, por que ela não sente o próprio peso? Por que ela não se sente puxada por uma força? Ele desconfiou que os corpos caem não porque existe uma força da gravidade, mas porque a Terra encurva o espaço à sua volta, e obriga os objetos por perto a percorrer o espaço encurvado na direção do centro da Terra. Antes de pôr sua ideia no papel, Einstein torrou a paciência de um amigo matemático, Marcel Grossmann, e tomou lições até aprender geometria elíptica o suficiente para publicar, oito anos depois (1915), a teoria da relatividade geral. Em entrevistas e cartas, Einstein se dizia uma pessoa comum, e não um gênio. Uma vez afirmou que, se tinha alguma virtude, era a de dar respostas simples a perguntas simples. Acho que estava sendo sincero. Einstein era inteligente (e também paciente, teimoso e otimista), teve uma boa ideia, usou as ferramentas adequadas, e por causa disso tudo pareceu um gênio.

Márcio Simões
Editor da Revista Cálculo

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