quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Alberto Coimbra: criação da COPPE e o sonho do Brasil independente


Primeiro de março de 1963. Têm início, no Rio de Janeiro, as atividades do curso de mestrado em Engenharia Química da então Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Era o embrião da futura Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (COPPE), nascida do ideal de um visionário e obstinado professor – Alberto Luiz Galvão Coimbra -, que, na época, abandonou seis de seus sete empregos para, em regime de tempo integral e dedicação exclusiva, colocar em prática uma idéia fixa: conjugar ensino e pesquisa para formar engenheiros criadores e não apenas operadores. Essa era, e ainda é, na opinião do professor, a condição necessária para manter um país independente.

Carioca, nascido em Botafogo, em 1923, formou-se pela Escola Nacional de Química da extinta Universidade do Brasil, por onde também se doutorou em Ciências depois de fazer mestrado em Engenharia Química na Universidade de Vanderbilt, nos EUA. Coimbra pertence à geração de nacionalistas típicos das décadas de 40 e 50, forjados na era de Vargas, que sonhavam com um Brasil industrializado. “Temos de formar mestres e doutores, gente capaz de criar a tecnologia que dará suporte ao processo de industrialização”, dizia a ele aos interlocutores que buscava arregimentar para ajudá-lo a construir a COPPE. A instituição se transformaria, poucos anos depois, em referência nacional na área de pesquisa tecnológica e no maior centro de pós-graduação em engenharia da América Latina, atualmente com 12 programas, 300 professores e cerca de 2,5 mil alunos.

Hoje, na casa em Teresópolis onde mora com a mulher, Marlene, o professor confessa que, naquela época, não imaginava que a COPPE fosse crescer tanto. “A idéia da pós-graduação em engenharia se propagou nas universidades brasileiras com muita intensidade, contribuindo para melhorar o nível não só da engenharia, mas da própria graduação”, frisa o professor, com uma ponta de orgulho: “É bom ver isso acontecendo”.

Alberto Coimbra sempre foi, acima de tudo, um professor interessado no aprimoramento de seus alunos, sem lançar mão de fórmulas prontas nem de manuais. Não se contentava em ver os estudantes repetindo apenas o que lhes era ensinado em aulas anotadas ou conhecimentos passados por livros didáticos. Seus discípulos tinham de pensar e fazer uso da matemática. “Afinal”, dizia ele, “a base da engenharia é a matemática, esse é o nosso tecido fundamental”. O forte conteúdo matemático de suas aulas acabava por revelar quais, dentre os alunos que passavam por suas mãos na graduação da Escola de Química, tinham talento para as ciências da engenharia, mais do que para a prática da engenharia na indústria. Assim ele selecionava os seus “cruzados”, como chamava os jovens que formariam o núcleo inicial da COPPE. Encaminhava-os para o mestrado no exterior e, na volta, fazia-os professores da pós-graduação.

Fundar e consolidar a COPPE não foi suficiente para Coimbra. Era preciso divulgá-la Brasil afora e até mesmo no exterior e atrair recém-graduados de outros estados e países. Mais uma vez, Coimbra inovou, enviando missões de recrutamento de alunos a cidades onde havia cursos de engenharia. Em cada localidade, os recrutadores punham anúncios em jornais e rádios, convidando formandos para uma entrevista no hotel em determinado horário. A eles era explicado o sentido do mestrado, e, ali mesmo, os interessados eram avaliados. Cada selecionado recebia a informação de que no Rio, receberia uma bolsa de estudo do CNPq ou da Capes, pois, tal como os professores, os alunos tinham de se dedicar integralmente ao curso. Receber pagamento para estudar era outra novidade para os moços da engenharia. Resultado: vieram alunos das principais capitais brasileiras, do México, Chile, Uruguai, da Colômbia e Argentina.

A COPPE, ao longo de todos esses anos, se expandiu graças a sucessivas inovações, seguindo a trilha aberta por seu fundador. Começou em duas pequenas salas de um prédio localizado no campus da Praia Vermelha e, hoje, ocupa um grande complexo da Cidade Universitária na Ilha do Fundão.

Hoje, apesar de aposentado, o professor Coimbra mantém acesa a velha paixão. No alto da Serra dos Órgãos, onde vive em meio à natureza, ele passa horas estudando matemática. De longe, Coimbra acompanha as atividades e o crescimento da instituição que fundou e alerta: “No Brasil, é preciso cuidar sempre para se manter viva e ativa uma instituição pública, por mais consolidada que possa parecer. É preciso ter um certo cuidado com as atividades de ponta desenvolvidas na COPPE. É preciso que o governo acompanhe o desenvolvimento científico e tecnológico do país amparando o ensino universitário. É preciso que os mestres e doutores da COPPE sintam-se motivados e solicitados a desenvolver atividades fundamentais para o aprimoramento da ciência e da tecnologia nacionais, levando a pós-graduação a florescer sempre”.

Texto publicado na Revista Nexo, da Faperj, em setembro de 2003.

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