domingo, 11 de novembro de 2012

Matemática

Eu não sabia, mas já fui um computador - já fui uma máquina. Isso começou no ensino fundamental, quando aprendi os algoritmos para somar, subtrair, multiplicar e dividir dois números, e perdurou até a idade adulta. Aprendi os algoritmos, mas nunca parei para pensar nos motivos pelos quais funcionam - e nunca nenhum professor me explicou os motivos também. Ora, que diferença existe entre quem executa algoritmos sem compreendê-los e um computador, que também executa algoritmos sem compreendê-los? 

Só quando comecei a trabalhar na Cálculo pude notar, primeiro, que eu usava os algoritmos sem saber como funcionavam e, segundo, que isso ocorria com quase todos os adultos com os quais convivo. Hoje sei que essa característica de certos procedimentos matemáticos, a de que podem ser executados mecanicamente, deu origem à indústria dos computadores e do software. Computadores só existem porque parte dos procedimentos matemáticos pode ser executada por máquinas inconscientes de si. 

Isso acontece não só no ensino fundamental, mas na faculdade tam­bém. Já conversei com jovens capazes de resolver um sistema de equações lineares com o método de eliminação de Gauss-Iordan, mas que não souberam me explicar as razões pelos quais o método funciona. Matemática não é isso, e fico contente de saber que muitos professores estão mais preocupados com esse problema do que estavam há 40 ano ; hoje mais professores sabem que seu papel não é ensinar um algoritmo, ma ensinar por que ele funciona. 

A foto abaixo mostra uma montagem de 165 fotos de Saturno, tiradas em 2006 pela sonda Cassini-Huygens, enviada pela Nasa ao e paço em 1997. O Sol está atrás de Saturno, e a bolinha circulada de vermelho é a Terra a quase 1 bilhão e 600 milhões de quilômetros de distância. Um feito desses só pode ser levado a cabo por gente que apena de cansa quando descobre os porquês das coisas, e se o Brasil ensinar matemática bem, será habitado por mais gente assim. 



Márcio Simões
Editor da Revista Cálculo

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